Semana de Combate às Drogas - CED INCRA 08

Distúrbios de desenvolvimento, maiores chances de problemas cardíacos, pressão alta, problemas de sono e alguns tipos específicos de câncer. Estes são, conforme aponta Daniel Amaro, especialista em genética, bioquímica e imunologia, alguns dos efeitos que o centro de controle de doenças dos Estados Unidos considera os principais do uso de drogas. Mesmo assim, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra o DF como a unidade da federação com maior número de adolescentes que já usaram drogas ilícitas.

De acordo com o levantamento, um a cada cinco jovens brasilienses de 13 a 17 anos tiveram contato com entorpecentes, representando 21% dessa população. Essa taxa, comparada com a média nacional, que é 13%, está bem à frente das outras regiões. Daniel destaca que, tal consumo tem um forte componente comportamental, e a necessidade de auto validação em grupos sociais. “Isso se dá de forma crítica na adolescência, e pode ser uma importante fonte de apresentação e uso para diversas drogas”, ressalta o professor de CEUB. Realizada com dados de 2019, a pesquisa avaliou estudantes entre o 7º ano do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio, em escolas públicas e privadas de todo o país.

Na avaliação de Mayarê Baldini, psicóloga e psicanalista de adolescentes e adultos, o adolescente é protagonista de um processo que envolve vários personagens: familiares, amigos, professores, profissionais de saúde, de segurança pública e referências comunitárias, e todos esses pontos devem ser levados em consideração ao analisarmos a PeNSE. Questionamentos quanto à situação de vulnerabilidade social, rede de apoio familiar e escolar, aparatos de saúde disponíveis, assim como a oferta de espaços de lazer, esportes e mobilidade, devem ser feitos nesse momento. “Fatores socioculturais e socioeconômicos podem se entrelaçar como fatores de proteção em prevenção a uma relação adoecida com as drogas. Da mesma maneira, a fragmentação e a precarização das redes que amparam o adolescente são entendidas como fatores de risco, favorecedores de uma relação mais grave com o uso de drogas”, defende a profissional.

Andrea Gallassi, professora e coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Universidade de Brasília (UnB), afirma que, repertórios empobrecidos de atividades impossibilita a construção, por parte do adolescente, dos chamados “fatores de proteção”. “São estes que dificultam que aquele jovem tenha acesso ao uso de álcool e outras drogas. Famílias saudáveis e presentes, projetos pedagógicos que trabalham o protagonismo juvenil, são alguns desses fatores”, traduz a professora. “O adolescente precisa exercer todo o seu desenvolvimento em espaços saudáveis. Ele precisa ser estimulado a estar nesses locais”, continua.

Do montante, três em cada quatro estudantes entrevistados estudavam em escolas públicas sendo, as meninas, a maioria (51,8%). Se tratando da cor ou raça, o estudo revelou que a maior parte se declarou parda (46,4%), e em seguida, vieram brancos (31,8%), pretos (13,4%), amarelos (4,6%) e indígenas (3,6%). Os 0,2% restantes não responderam. Brasília lidera também o número de adolescentes que já usaram cigarro eletrônico (30,8%).

Números e efeitos que assustam

Se tratando do cigarro, 27,3% dos estudantes já haviam provado, sendo o narguilé, o com maior índice de usuários, com 50,6% das respostas afirmativas.

O especialista em genética pontua que, devido aos efeitos imediatos das substâncias nessa faixa etária se darem de forma menos potente que nos adultos, a tendência é que o consumo dos jovens seja bem maior que nos grupos de pessoas mais velhas. Daniel salienta que alguns estudos relevantes da literatura médica apontam que o corpo dos adolescentes provavelmente reage de forma diferente às diferentes substâncias ilícitas. “Dentre estas, podemos destacar a diferença de balanço entre recompensa e efeito aversivo da droga, de acordo com a idade. Um bom exemplo desse efeito é a diferença da ressaca após abuso de álcool. Assim, sem o efeito aversivo, os adolescentes tendem a consumir quantidades maiores, que podem trazer efeitos mais graves à saúde”.

Fonte:https://jornaldebrasilia.com.br/brasilia/consumo-de-drogas-por-jovens-no-df-e-o-maior-em-todo-o-pais/